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SPACs: o “cheque em branco” que pode recolocar o Brasil no contexto mundial de negócios

Foto do escritor: CM&ACM&A

Atualizado: 3 de fev. de 2022

Alexandre Pierantoni



SPACs. Essas quatro letras estão transformando o jeito como os investidores e as empresas captam recursos e abrem capital nas bolsas de valores.


SPAC significa Special Purpose Acquisition Company e são sociedades recém-constituídas que fazem captações e são conhecidas como empresas “cheques em branco”.


Os sponsors iniciais das SPACs normalmente têm um histórico de sucesso de investimentos e abrem o capital da empresa para atrair novos investidores que, juntamente, irão adquirir empresas que já existem e têm potencial de consolidação e crescimento.


O apelido “cheque em branco” qualifica bem o momento da SPAC quando da abertura de capital, porque, a princípio, não se sabe exatamente qual empresa-alvo será objeto de aquisição. Esclareço: naquele momento, não há necessidade de apresentar aos investidores qual é o setor, ou empresa ou mesmo o país em que a empresa alvo tem operações. Com a aquisição de uma participação na SPAC o investidor garante uma opção de investimento adicional na operação.


As SPACs têm ainda um prazo de dois anos para que os investimentos sejam feitos – caso contrário, a empresa é desfeita e o investidor tem seus recursos retornados.

A operação se popularizou nos Estados Unidos e, desde o ano passado, tem sido uma forma ágil de empresas abrirem seu capital no exterior. Desde janeiro de 2020 até março de 2021, foram realizadas 89 operações envolvendo SPACs. O volume resultou em mais de US$ 145 bilhões em transações. A expectativa é de que, ainda neste primeiro semestre, as SPACs movimentem 300 bilhões de dólares.

Na Duff & Phelps, A Kroll Business, as operações de SPACs têm sido parte de nossa rotina, incluindo a modelagem e estruturação de transações, emissões de Fairness Opinions e análises de empresas alvo.





Números de operações são animadores


Para entender o momento dessas atividades, seguem alguns números que ilustram a magnitude das operações: o número de IPOs de SPACs quadruplicou no ano de 2020 em relação a 2019. Além disso, o total realizado no primeiro trimestre de 2021 supera o volume do registrado em todo o ano passado. Em termos de valuations, os múltiplos têm estado na faixa de 9 e 11 vezes EBITDA, considerando, por exemplo, os setores de indústria e produtos de consumo e performado acima de índices como o S&P 500.


Outros dados corroboram essa boa perspectiva: desde janeiro de 2020 até março deste ano, foram realizadas 89 operações envolvendo SPACs com volume que resultou em mais de US$ 145 bilhões em transações. Além disso, foram anunciadas 117 operações adicionais e que estão pendentes de fechamento.


Também existem 433 SPACs buscando ativamente alvos de aquisição, e com mais de US$ 125 bilhões levantados em IPOs.


Outras 252 SPACs entraram com pedido de IPOs, o que demonstra o crescimento exponencial deste veículo de investimento. E estão em todos os setores: indústrias, produtos de consumo, serviços financeiros, tecnologia, energia e recursos naturais.

Um dos fatores que tem impulsionado esse mercado é a atual liquidez dos mercados mundiais, em combinação com as taxas de juros reais mínimas e uma extrema necessidade de investimentos para recuperação da economia mundial. Para a empresa alvo de uma SPAC, há vantagens quanto à rapidez em acessar recursos, da alavancagem financeira e operacional, e, também, do impacto positivo sobre as atividades de M&A.

Essa iniciativa vai competir com investidores estratégicos e financeiros. Mas é preciso atenção: cada empresa tem seu momento. Uma transação com uma SPAC pode ser a solução ideal, mas ainda existem casos em que o melhor parceiro pode ser o próprio investidor financeiro.

"Mas é preciso atenção: (...) uma transação com uma SPAC pode ser a solução ideal, mas ainda existem casos em que o melhor parceiro pode ser o próprio investidor financeiro"

Regulamentação


No Canadá, onde as SPACs são denominadas Capital Pool Company - CPC, e na Inglaterra, autoridades analisam os modelos e regulamentam também essa forma de investimentos. A própria SEC, regulador nos Estados Unidos, continua na análise das estruturas e dos princípios contábeis, de modo que, para os próximos meses deste ano, deverá haverá haver um aprofundamento disso.


No Brasil, a CVM está em processo de consulta pública até este mês de junho. Regulamentar no país as SPACs colocará o Brasil no contexto mundial de negócios e atrairá capital para investimentos na economia real e desenvolvimento da economia nacional, pontos fundamentais para a nossa recuperação. Ao longo deste ano de 2021, já vimos investidores brasileiros realizando abertura de SPACs nos Estados Unidos, e, com certeza, esses recursos beneficiarão investimentos na economia real no Brasil. Alguns nomes, como Vinci, Pátria e Itiquira, por exemplo, já conseguiram captar mais de meio bilhão de dólares a fim de comprar empresas na América Latina.

"Regulamentar no país as SPACs colocará o Brasil no contexto mundial de negócios e atrairá capital para investimentos na economia real e desenvolvimento da economia, pontos fundamentais para a nossa recuperação."

Esse é o tipo de iniciativa que nos permite ver um horizonte positivo, embora, seja fato: cada empresa tem seu momento. Uma transação com uma SPAC pode ser a solução oportuna e ideal para uma companhia naquele momento, mas ainda existem casos em que o melhor parceiro pode ser o próprio investidor financeiro ou mesmo a consideração de uma transação com um estratégico. Ou, ainda, esperar o momento oportuno e maduro para um IPO tradicional. Por fim, há de se destacar que o panorama macro é fundamental para essa visão positiva.


M&A e perspectivas... mas há muitos desafios ao país


Além do cenário alvissareiro em relação às SPACs, o clima de otimismo em 2021 também diz respeito a um primeiro quadrimestre recorde de atividades de Fusões e Aquisições (sigla M&A, em inglês). Ao todo, as startups brasileiras captaram a US$ 2,35 bilhões nos primeiros quatro meses do ano, volume que, sozinho, já representa 66% do investido durante todo o ano de 2020, até então, o melhor da série histórica. Segundo a ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital) os investidores financeiros - considerando apenas private equity e venture capital, investiram no primeiro trimestre de 2021, mais de R$10 bilhões (sendo aproximadamente 80% na categoria de venture capital). Este número é praticamente o dobro do que verificamos no primeiro trimestre de 2020.


As atividades de M&A devem bater novo recorde em 2021 e atingir um patamar recorde histórico de mais de 1.300 operações (em 2020 foram cerca de 1.100 operações), com crescimento de cerca de 20% em relação a 2020. Os setores que se destacam continuam sendo os de Tecnologia, Alimentos e Bebidas e Instituições Financeiras. Tecnologia é um direcionador de transações para todos os setores – financeiro, agronegócios, varejo, e logística, embalagens, dentre outros.


Mesmo assim, é impossível não considerar, no cenário macro, que, mesmo com alguns recentes avanços, a aguardada agenda de reformas e privatizações custa a sair do papel. Os acordos políticos, amargos de compreensão, mas necessários, são críticos para implementação de políticas de crescimento e ajustes de agenda e responsabilidade fiscal.

(...) é impossível não considerar, no cenário macro, que, mesmo com alguns recentes avanços, a aguardada agenda de reformas e privatizações custa a sair do papel".

Sem direcionamentos e respostas urgentes para questões de cunho fiscal, tributário, ambiental, econômico, social – que inclui a questão de saúde e de atenção ao tratamento da pandemia, dificilmente essa perspectiva se sustenta. Precisamos de uma liderança que consiga coordenar e estimular uma agenda positiva.


 

Mais informações e análises sobre SPACs estão disponíveis neste relatório da Duff & Phelps, A Kroll Business:



 

Alexandre Pierantoni é Managing Director e Head of Brazil Corporate Finance da Duff & Phelps, A Kroll Business.


 

Quaisquer opiniões veiculadas nessa publicação não necessariamente refletem e não vinculam o Center for M&A Studies ou a Duff & Phelps, A Kroll Business, tendo propósito meramente educacional e informativo, não devendo ser compreendidas como aconselhamento jurídico.

 

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